Um dos problemas mais graves no Brasil de 2011: a falta de mão-de-obra qualificada. Afirmação que vem mantendo sua atualidade nas últimas três décadas e que não apresenta qualquer perspectiva de melhoria nos próximos dez anos. Uma questão: de qual mão-de-obra estamos falando? Talvez estejamos nos referindo à mão-de-obra em qualquer nível, mas especialmente no segmento de gerentes e técnicos, o que gera muita dificuldade com tecnologia e inovação em nossas empresas. Profissionais de TI com muita empáfia e pouca técnica, engenheiros que conhecem muito pouco a tecnologia com a qual trabalham e técnicos medíocres de forma geral. Sabemos a causa: escolas péssimas, temos um dos piores sistemas escolares público e privados do mundo. Nossos alunos estudam muito pouco, não rodam mais e os professores já têm origem neste sistema, ou seja, eles próprios, e talvez seus mestres também, foram mal formados e são ruins na sua maioria. Gente mal formada formando mal muito mais gente. Embora muitos conheçam esta realidade, o assunto é delicado e raramente alguém diz o quão ruim são professores, engenheiros e tecnólogos no Brasil. O resultado é de fácil previsão: dificuldades com tecnologia, inovação e gerenciamento. Continuamos chamando engenheiros, médicos e técnicos estrangeiros quando “a situação aperta”. A bibliografia que presta é de fora e nossa gente fala muito mal o inglês.
Leia alguns trechos de reportagem sobre a questão, publicada em mídias como a Folha de S. Paulo e o site da revista educação:
“Aos poucos, a produção de inovações tecnológicas passou a ser sinônimo de um desenvolvimento econômico em que as engenharias cumprem papel fundamental. China e Índia entenderam o recado e formam, respectivamente, 650 mil e 220 mil engenheiros por ano.
Na contramão desses países emergentes, o cenário brasileiro não é muito animador. Segundo o Censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o Brasil formou, em 2008, apenas 47 mil engenheiros. Mesmo se ajustarmos os números relativamente à população de cada país, continuamos bem atrás. Pelas projeções de crescimento econômico para os próximos anos, a falta de engenheiros pode vir a ser um dos principais gargalos para o crescimento brasileiro. Mais importante do que intuir a óbvia solução de aumentar o investimento na formação de engenheiros para multiplicar o número anual de formandos, instituições e pesquisadores se debruçaram sobre o problema para entender as suas raízes, e o que exatamente precisa de maior incentivo.
Ensino superior desastroso (no Brasil, há mais de 250 títulos diferentes para cursos de Engenharia, enquanto na Alemanha este número não passa de 14) e formação básica deficiente em matemática, física, ciências em geral e lógica são algumas das causas da catástrofe. Há nos cursos de Engenharia (e mais ainda em outros cursos) analfabetos em matemática e conhecimento científico.
A falta de engenheiros no mercado brasileiro afeta o setor de inovação no país. A conclusão é do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), que avaliou dados da formação de engenheiros no Brasil. Segundo o Censo da Educação Superior de 1999, 5,9% dos formandos eram engenheiros. Em 2008, esse número caiu para 5%.
O Brasil ocupa o último lugar em número de engenheiros em relação à população segundo estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) com 35 países.
“Se temos um atraso na inovação, é principalmente devido à falta de gente. Outros países, como a China, têm apostado mais na formação de engenheiros”, afirma dirigente do IEDI.
Outro estudo sobre o tema, realizado pelo IPEA em 2010, prevê que, caso a proporção atual de formação de engenheiros no país se mantenha, o Brasil poderá sofrer com déficit de oferta.
O perfil da formação dos engenheiros também mudou na última década. Em 1999, setores tradicionais da engenharia – elétrica, civil, química e energia – concentravam 53% dos profissionais. Em 2008, este número caiu para 31%, segundo o MEC”.
Saber falar e escrever corretamente em português e inglês e ter forte base matemática, independentemente do futuro curso superior, é requisito básico para qualquer país desenvolvido.
Formamos (muito mal) psicólogos, administradores de empresas, economistas, advogados, pedagogos e músicos demais e engenheiros de menos. Antes que o mundo desabe sobre minha cabeça e você que lê este texto coloque a mão no peito e cante o hino nacional (que a maioria dos brasileiros ainda não decorou e nem entende boa parte das palavras) e jogue as pedras, pense nos resultados que estamos obtendo e compare-os com os estrangeiros. Cada um de nós precisa ler entre 15 a 20 livros técnicos por ano, será que é possível entender?
Como, diante de quadro tão desanimador, deve proceder a diretoria de uma empresa e seu setor de RH? “Apertando” seu processo de seleção e melhorando muito seu processo de treinamento. Assunto batido, mas ainda carente de execução por boa parte das empresas. Fazer o pessoal ESTUDAR MUITO. Um pré-requisito: reconhecer que o problema existe e que precisamos de técnicos no nível médio e superior muito, mas muito melhores do que temos, especialmente engenheiros.
Paulo Ricardo Mubarack